A epidemia de Ébola chegou ao nosso quintal – e aos nossos animais!

A crise de saúde pública em Espanha, desencadeada pelo contágio directo do Ébola – o primeiro conhecido fora de África – entre um paciente e uma auxiliar de enfermagem do Hospital Carlos III, nos arredores de Madrid, segue tão descontrolada como a propagação do próprio vírus. Por entre acusações de falta de coordenação da direcção do Hospital, equipamento desadequado, treino insuficiente, impacto das medidas de austeridade no sistema de saúde espanhol, nada nem ninguém parece ficar imune à propagação do vírus (ou pelo menos, às suas consequências).

A mais recente vítima colateral desta epidemia - que parece retirada do filme Contagion (Steven Soderbergh, 2011) - é o cão da enfermeira infectada. A pedido das autoridades sanitárias da Comunidad de Madrid, um juiz autorizou hoje o abate de Excalibur, um American Stanfordshire Terrier de 12 anos de idade. O marido da enfermeira – também ele internado para observação – lançou um apelo nas redes sociais para que Excálibur seja poupado, com o apoio do partido animalista PACMA e da associação AXLA (Amig@sXlosanimales). A campanha #SalvemosExcalibur conseguiu reunir umas cinquenta pessoas à porta de casa da enfermeira, onde o cão está sozinho, depois do internamento dos seus donos.

Embora o papel dos animais domésticos na propagação do Ébola seja desconhecido, sabe-se que cães podem ser portadores assintomáticos do vírus e representam potencial risco de contágio. No entanto, Eric Loy, um especialista na transmissão do Ébola, discorda com a solução encontrada pelas autoridades espanholas, já que cão representaria uma fonte importante de informação sobre o vírus e sobre a sua transmissão. Em vez do abate, o cão deveria ser isolado e usado como ferramenta estudo. Uma petição, propondo algo semelhante, foi entretanto criada.

Peter Piot, um dos investigadores que descobriram o vírus em 1976, nunca pensou que o Ébola pudesse causar grandes riscos epidemiológicos, dada a natureza episódica e localizada dos anteriores surtos da doença. Mas agora o responsável europeu da Organização Mundial da Saúde (OMS-WHO) já admite que incidentes como o de Espanha se venham a repetir noutros países europeus, dada a proximidade e as deslocações frequentes entre os dois continentes.
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