Pass(e)ando sobre os Elefantes ?

Por Alexandra Alves e Matilde Caramelo, alunas do Pós-graduação em Comportamento e Bem-Estar Animal, ISPA. 

Elephas maximus, o elefante Asiático, é um dos maiores animais terrestres. Este mamífero herbívoro pesa 3 a 5 toneladas e alimenta-se de 135 kg de folhagem diariamente. São animais gregários, que constituem famílias, as quais se juntam em grupos de 15 a 30 fêmeas e crias, formando manadas conduzidas por uma única fêmea, a matriarca. Os machos são mais solitários, seguindo o seu próprio caminho quando atingem a puberdade.
A espécie asiática diferencia-se da africana por algumas características anatómicas como ser mais pequena, e ter orelhas redondas e mais pequenas e uma tromba preênsil que termina em apenas um lóbulo, o que lhes permite agarrar objetos pequenos. E ao contrário do que se passa no continente africano, há uma longa tradição na Asia de manter elefantes em cativeiro.

Estes elefantes são muitas vezes referidos como domesticados, mas na realidade são domados, ou seja, foram habituados a estar próximos de seres humanos e colaborar com eles. Não houve um processo de domesticação da éspecie, não há uma sub-população distinta de elefantes domesticados, e muito raramente procriam em cativeiro. Ou seja, como diz uma fonte da FAO “a domesticated elephant is simply a wild animal in chains

Na Tailândia, estima-se haver cerca de 4.000 indivíduos, dos quais 2.500 estão em cativeiro e apenas 1.500 vivem em liberdade. Antigamente, nesta região, este animal era utilizado em transporte de cargas, mas a prática foi banida e estes animais foram direcionados para reservas naturais e para o comércio turístico.

Para que possam participar no comércio turístico têm de ser domados. Este processo é descrito como um treino intensivo e violento, que afasta as crias das mães, coloca-as em jaulas onde mal se conseguem mover e são agredidas durante 3 a 7 dias com objetos perfurantes e cordas, privando-as de comida, água e de sono.

Os elefantes são usados em atrações turísticas, tais como transporte de pessoas, em circos e outros espetáculos. Além do treino violento, estas práticas em si são perigosas para o elefante, cuja coluna vertebral não suporta pesos além de cerca de 150 quilogramas, enquanto o que carrega na realidade é bastante superior. Como o documentário ilustra, os turistas em geral desconhecem a prática por trás dos passeios de elefante.


An Elephant Never Forgets (Groundbreak Productions)

Esta prática implica uma série de problemas éticos e de bem-estar. Por um lado, muitos dos elefantes de trabalho não têm uma qualidade de vida satisfatória, medida ou avaliada com base no seu estado de saúde, no seu equilíbrio físico e psíquico. Não se encontram numa situação em que lhe são oferecidas as condições mínimas para este não se encontrar em sofrimento. 

Por outro lado, o elefante asiático é uma espécie em perigo segundo a Lista Vermelha da IUCN. Os elefantes em cativeiro podem contribuir para a salvaguarda da espécie. E as atividades com elefantes são uma fonte importante de rendimento para muitos tailandeses. Mesmo que os animais não possam viver no habitat natural da sua espécie, podem estar em harmonia com o ambiente envolvente.

Para isto será necessário abolir práticas violentas com os animais, tanto em termos de treino como em termos das próprias atividades turísticas. Isto implicaria obviamente uma radical mudança de métodos, em que as atividades passem por observar os elefantes e não passear em cima deles.

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