Há 13 anos, com o lançamento do filme "À procura de Nemo", o peixe-palhaço (Amphiprion ocellaris) tornou-se imensamente popular entre os mais novos. Infelizmente, a popularidade granjeada por esta espécie não se traduziu numa maior preocupação pela preservação destes peixes e do seu habitat, e nem o facto dos aquariofilistas serem os "vilões" no filme levou a que muitas crianças deixassem de exigir ter um "Nemo" em casa, o que resultou num aumento do número de peixes selvagens capturados todos os anos.
Apesar da espécie em si não estar em risco, cada um destes peixes pode ter uma vida difícil. A manutenção de um aquário de água salgada requer cuidados e atenção, e facilmente as condições de vida destes animais se podem degradar em cativeiro. Para além disso, muitos destes peixes tiveram mortes traumáticas, ao serem atirados vivos pelas crianças pela sanita, numa tentativa de imitar a "libertação" de Nemo e Dory que viram no filme. Acontece que, por meritória que seja a intenção, o mero contacto com água doce faz com que peixes de água salgada entrem choque, e a força da descarga faz com que estes frágeis animais embatam violentamente, sofrendo traumatismos múltiplos.
Cerca de 90% das espécies marinhas vendidas para aquários são capturados na natureza, o que tem um impacto profundo no seu habitat. Para os atordoar, lixívia, cianido e até dinamite são lançados à água, com um efeito devastador nos recifes coralíferos que servem de habitat a estes peixes, mas também a outras espécies de vertebrados e invertebrados.
O que nos leva ao actual problema da popularidade do filme "À procura de Dory". Ao contrário dos peixes-palhaço, em que 7 das 28 espécies conhecidas conseguem ser reproduzidas em cativeiro, os peixes-cirurgião patela - Paracanthurus hepatus - têm até agora sido 100% capturados do meio selvagem, no Leste da África, Havaí, Japão, Samoa, Nova Caledônia, e na Grande Barreira de Coral. Cerca de 60-70% destes animais morrem durante a captura e transporte (devido aos químicos usados, mau manuseamento e doença). Num momento em que a grande barreira de coral já está em perigo eminente de total destruição devido ao aquecimento global, a destruição associada à captura de vida marinha é particularmente danosa.
Por isso, como nos recomenda este filme, veja a Dory no cinema e ajude à conservação desta espécie e do seu habitat. Mas não a leve para casa!